17 de junho de 2003

HORA DO CONTO: A LÉSBICA E O CARECA-2
" ... lhe parecia uma coisa de somenos importância.
- Ainda te vou comer, pega!- disse ele, para os botões. Estes não responderam, facto que ele tomou como uma anuência- Salto-te para cima, até gritares pelo médico.
E, sorrindo, pôs o seu plano em marcha. Usou a estratégia poética que resulta muito bem com as desfavorecidas da sorte e também com as muito favorecidas, que têm a mania que a fartura de corpo que Deus lhes deu traz água no bico. Mas esta última parte, ele não sabia, por isso ficou-se com a mais desengonçada.
Abreviando, ele comeu-a. Mas a coisa custou-lhe mais tentativas literárias do que tinha contado. Trinta e seis poemas que não tinham servido para mais nada que amolecer a resistência cambaleante da rapariga. Foi com uma coisinha do Álvaro de Campos (adaptado) que ela se rendeu e, suspirante, lhe abriu o que nunca abrira (e isto não é uma citação do Ary dos Santos sobre as maravilhas de Abril...). A título de curiosidade, diga-se que o aparelho ortopédico, não favoreceu a coisa e que, devido a um movimento impulsivo lhe esteve quase a custar parte do seu próprio equipamento.
Era agora, 22 anos depois, que estes poemas se iriam transformar em rimas. E de rimas em letras. E de letras em canções. E de canções em vingança.
Júlia também lutou com a guitarra, para lhe arrancar os acordes que lhe faltavam. Mas ela ainda ia consolando a alma, no corpo de uma camarada de luta, que encontrava num bar chamado, “As três malucas”, que era propriedade de uma antiga freira que ali tinha aplicado a herança da mãe beata e as economias das duas irmãs. Fizeram-no em parte por vingança à mãe, que lhe tinha chagado o juízo às três, em vida, empurrando duas para o casamento e outra para o convento."
(continua?)

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